The broken column, Frida Khalo, 1944

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Em que tempo feneço?



Do futuro não há, de nós, memórias,
Do passado não restam lendas ou histórias,
No presente nada é ou existe
E da eternidade, que verás, vês ou viste?

Vês como o meu corpo se afoga num buraco negro?
Já não to dou (mas invisivelmente ainda to entrego)
Porque agora que não há dia ou noite com sol ou lua
A minha alma sofre, estropiada e nua.

Do passado, viste como as lembranças são mortas
E as dores do corpo, como deixaram a mente e as costas tortas?
Se nasci, não há minuto, hora, dia, ano ou registo,
Pois ninguém recorda qualquer choro ou grito.

Do futuro, que dizes? Não há possibilidade de horóscopo
Nem estrelas antigas ou cadentes que ver pelo velho telescópio.
Apenas afirmas que a linha da vida não saberá viver na minha mão!
Amor, diz-me em que tempo feneço neste infinito de ilusão?

Do futuro não há, de nós, memórias,
Do passado não restam lendas ou histórias,
No presente nada é ou existe
E da eternidade, que verás, vês ou viste?

(Vila Verde, 14/02/2012)

(Mulher cão, 1994, Paula Rego, http://daniname.worldpress.com)

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A tranquilidade da foice

No dia do silêncio,
Ou no silêncio do dia,
Surge a noite por mim adentro
E morro sem viver na alegria.

Noutra era, não fora
Eu, mas ela quem calou
O corpo doentio na hora
Em que a alma se separou.

Nesse dia de chorar,
A felicidade outra vez se perdeu
E o futuro não ousaste antecipar
Até encontrares outra, que não eu.

Hoje é o dia e a noite
De nada guardar e tudo perder,
Peço-te, então, a tranquilidade da foice
Pelo meu coração a descer.

(Vila Verde, 13 e 26/01/2012)

(Unos cuantos piquetitos, Frida Khalo, 1935, www.es.wahooart.com)