The broken column, Frida Khalo, 1944

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Mar de amar

Água que banha meu corpo de amor...
Terna água com teu sal adoças meu ser...
Doce água, em ti há vida de infinito...
Há estrelas e luar cintilando
em tua branca espuma...
Papel amarrotado saltando ao vento,
papagaios de papel empurrados para a margem
e seus cordéis em minhas mãos...
e mais... e mais...
e mais águas e espumas...
banho marítimo embrenhado
em luz verde e em noite...
e mais...e mais...
Meus cabelos são já algas,
corais coroam minha cabeça.
Meus seios são já rochas
onde a nívea espuma se mata,
neve que derrete de altas montanhas...
Minhas pernas e meus braços
são rochedos submersos
e um papagaio desfeito
cobre-me...
e mais... e mais...

E eu sou já mar... de amar
mar de amar... mar...
amar... mar
amar...
e mais... e mais...

(The sea of tears, Carrie Ann Baade, 2006, http://www.surrealism.com)

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Demo


Hoje é o dia de chorar!
Chorar sem lágrimas de dor.
Lágrimas de ódio são o que tenho
Para te mostrar, ó demo!

Hoje é o dia da tristeza!
Não sou triste pelo que sou
Mas por aquilo que fui e pensei não ser...
Ah! que dor esta, sempre a doer...

Hoje é o dia das lágrimas!
Chove na rua e em mim...
Chuva que queima ao tocar!
Ah! meu coração não tem fim...

Hoje é o dia de chorar!
Chorar sem lágrimas de dor.
Lágrimas de ódio são o que tenho
Para te mostrar, ó demo!

Tu sempre me iludiste...
Uma cara e dois corações possuías!
E, agora, descobri-te...
E sou estupefacta e doentia!

Ah, hoje é o dia de chorar!
Chorar sem lágrimas de dor.
Lágrimas de ódio são o que tenho
Para te queimar, ó demo !

Com estas lágrimas cortantes,
Água e terra e fogo unidos
Vou mostrar-te, ó demo,
Que chegou o dia do Juízo!

Ah! Ah! Ah!
Hoje é o dia de chorar!
Chorar lágrimas de riso!
Lágrimas diabólicas são o que tenho
Para te trucidar, ó demo !

Ah!Ah! Ah!
Para te matar, ó demo!!
(The interrogator's garden, Paula Rego, 2000)

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Quando ele revela a sua alma


 
Quando ele revela sua alma
Monstro cavalgante se apresenta...
Bebe de mim todas as forças...
Quer-me doente!

Monstro sanguíneo e horroroso,
Quem pensas tu que és neste mundo?
O Rei, o dono do mundo?
És cruel e lancinante é teu olhar!
Com ele magoas-me e eu choro...
Pois monstro és e eu já não te adoro...

Quando ele revela sua alma
Monstro cavalgante se apresenta...
Bebe de mim todas as forças...
Quer-me doente!

Monstro horrível e pútrido,
Quem pensas ser neste lado da terra?
O dono, o senhor de que quimera?
Ah, não! Não és o dono de sonhos,
Mas de pesadelos...

Meu corpo pesa só de pensar em ti
E em tu a tê-los...
Monstro que tudo queres devorar...
Minha alma, meu sangue...
És doente e diabo que
Morrerá exângue !
Ah, sim, morrerás sem sangue!

Pois eu, ao ver tua alma nua, despida ,
Descobri que não te queria...
Como pude desejar-te e amar-te?
Dar-te minha alma e minha vida?
Para que tu morresses, eu morreria,

Monstro sangrando de alegria...
És canibal! E olha,
Para que tu morresses, eu morreria!
Só assim meu sofrimento não mais sofreria..
E eu, morta, viveria.

(Swallows the poisoned apple, Paula Rego, 1995)