A primeira palavra é saudade,
Sempre que a madrugada amanhece
E é também a última quando a tarde anoitece.
Saudade dos silêncios que preenchemos,
Das histórias de família que contámos,
Das palavras ditas e também das imaginadas.
Saudade dos cafés sem café que bebemos,
Dos dias de infância que lembrámos,
E das músicas que ouvimos ao serem mencionadas.
Saudade dos livros que ambos lemos,
Dos diminutivos que, então, nos chamámos
E das dores que sentimos menos ao serem reveladas.
Saudade das vidas que, por aí, vivemos,
Dos filmes com que, outrora, sonhámos
E do destino sem tristezas adicionadas.
Saudade das profundas mágoas de que padecemos,
Dos caminhos por onde caminhámos
E das alegrias verdadeiramente partilhadas.
Saudade do futuro que não supusemos,
Do sonho que, a dois, não sonhámos
E das mãos que não viverão mais entrelaçadas.
E no intervalo, em que o sono sonhos tece,
Saudade é a palavra que nunca envelhece,
Enquanto a minha vida lentamente se desvanece.
(Vila Verde, 17/04/2011)
Enquanto a minha vida lentamente se desvanece.
(Vila Verde, 17/04/2011)
(Resurrexit, Anselm Kiefer, 1973)
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