The broken column, Frida Khalo, 1944

quinta-feira, 10 de março de 2011

Já vão longas as madrugadas

Já vão longas as madrugadas,
Já percorri todas as estradas,
Não há mais páginas para ler,
Muitas menos as que escrever.

Já olhei todo o firmamento,
Já escrevi longo testamento:
Tudo o que tenho jaz na terra!
Bruxa ou fada, nada sou, pois nada era!

Já pintei de dores todas as cores,
Já amei tantos e grandes amores,
Dancei curtas e longas danças,
Fiz e desfiz todas as tranças.

Suportei eternas fomes e sedes,
Derrubei negros muros e paredes,
Já sofri duros sentimentos,
Já vivi todos os momentos.

Já abracei todos os abraços,
Fui mais forte que brandos laços,
Já amei e matei tanto homem,
Já não vivo outro dia de ontem.

Já beijei tantos doces lábios,
Já escutei tantos inteligentes sábios,
Não conheço mais palavras amargas,
Já vão longas as madrugadas.

Já olhei todo o firmamento,
Já escrevi longo testamento:
Tudo o que tenho jaz na terra!
Bruxa ou fada, nada sou, pois nada era!

(Vila Verde, 7/3/2011)

(Uma noite estrelada, Van Gogh, 1889)

Sem comentários:

Enviar um comentário