The broken column, Frida Khalo, 1944

terça-feira, 29 de março de 2011

Despida de amores

 O meu amor tem tido tantos amantes
E o meu sentir não atenta a leis nem a juízes!
Se te importasses, contar-te-ia como vivo vestida de amores
(E, se quisesses, mesmo como virgens, seríamos ternamente felizes!):

Hoje estou vestindo o amor branco, mesmo alvo.
É alto e ondulante e maduro companheiro de sabedorias,
Mas só por amor de outra, que não eu, sabiamente se perderia!

Hoje visto-me de amor dançante e negro humor.
Dá-me o beijo (que meu amor não deu!) e sabe ler-me completamente,
Mas não me quer, nem outros amores, que já o coração por aí perdeu!

Hoje uso a veste branca e bem dourada.
É poeta nas palavras que me escreve; povo nas que, secretamente, me diz,
Mas sou apenas uma de suas bailarinas musas, não um de seus amores!

Hoje são castanhas e cinzentas as vestes que me aconchegam.
Pequeno Sansão, chama-me “Dalila, meu amor!” e ama-me perdidamente,
Mas na sua outra vida (essa sim, cruel!) dança com muitas outras!

O meu amor tem tido tantas vestes
E o meu sentir tem vivido mais que as meretrizes!
 Se te importasses, não deixarias que me embalasse nestes amores
E, se quisesses, não teria mais noites assim vestidas e assim infelizes!

Hoje quero despir-me para ti, que és o deus de minhas cores,
És dono do meu arco e és o meu mestre entre tantos pintores petizes!
Meu amor, bastar-me-ias tu, se me quisesses despida de amores
E, nas eternidades, me vestiria com tuas belas íris e seus matizes!

(Vila Verde, 28/03/2011)
     
            (Danae, Gustav Klimt, 1907)

2 comentários:

  1. Olá Isabel! Muito bom poder de análise e sintese em linguagem poética! Gostei particularmente das metáforas "deus das minhas cores" e "dono do meu arco"! - a recordar!!

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  2. Olá Terraseca!
    Bem-vindo ao meu blogue! Obrigada pelas palavras e espero que "recorde" estas palavras!
    Isabel

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